Naruto Uzumaki, um nome que ecoa através de gerações, marcou a infância de muitos e continua a cativar novos fãs. Sua jornada, rica em nuances psicológicas, desde a rejeição inicial até a conquista do título de Hokage, é um estudo fascinante sobre a resiliência, a busca por reconhecimento e a complexidade da natureza humana.
Desde o nascimento, Naruto carregou um fardo pesado: a Kyuubi, a Raposa de Nove Caudas, selada em seu interior. Órfão e sem o apoio de outros parentes, ele cresceu sob os cuidados indiretos de Hiruzen, o Terceiro Hokage, aprendendo desde cedo a se virar sozinho. Essa solidão foi agravada pelo desprezo da Vila da Folha, cujos habitantes o viam como a encarnação do próprio demônio, desejando seu afastamento. Essa rejeição, paradoxalmente, moldou o amadurecimento precoce de Naruto, privando-o da fase de proteção e atenção exclusiva tipicamente vivenciada na infância. Essa carência, talvez, seja a raiz de sua busca incessante por atenção, manifestada em travessuras e atos quebrando regras.
Iruka-sensei foi o primeiro a enxergar além do garoto problema, reconhecendo sua importância e oferecendo-lhe o afeto paternal que tanto lhe faltava. Konohamaru, por sua vez, foi um dos primeiros a valorizar Naruto, vendo-o como um mestre e amigo. Essa busca por apreciação, como apontou o psicólogo William James, é um princípio fundamental da natureza humana, e talvez seja essa busca universal que nos conecta tão profundamente com a história de Naruto.
A entrada no Time 7 marcou um ponto crucial na jornada de Naruto. Kakashi, o sensei admirado, soube como se comunicar e guiar Naruto com paciência e compreensão. Sakura representou o esforço e a dedicação aos estudos, além de ser o primeiro grande amor (embora, na vida adulta, ela mesma relativize esse sentimento à competitividade com Sasuke). E Sasuke, o companheiro com um passado sombrio semelhante ao de Naruto, estabeleceu uma complexa relação fraternal, marcada por rivalidade e lealdade inabalável. Essa conexão profunda explica a extensão dos esforços de Naruto para resgatar Sasuke, um laço que transcendeu a simples amizade.
Uma das características mais marcantes de Naruto é sua capacidade de influenciar a percepção das pessoas, não por manipulação, mas por meio de seu exemplo e palavras. Ele consegue tocar o âmago dos indivíduos, fazendo-os internalizar suas experiências e aprender com elas. Essa habilidade se manifesta em seus encontros com diversos personagens ao longo da série.
Zabuza, o demônio da névoa, teve seu coração gelado derretido pelas palavras de Naruto sobre o profundo respeito e admiração de Haku por ele. A máscara de crueldade de Zabuza se quebrou, permitindo que ele expressasse seus sentimentos reprimidos. No Exame Chunin, a luta contra Neji, um gênio que acreditava no destino imutável, demonstrou a força da determinação de Naruto em desafiar as expectativas e moldar seu próprio futuro. A derrota para Naruto transformou Neji, que se tornou um líder disposto a se sacrificar pelos outros.
A relação com Sasuke, no entanto, teve um efeito inicialmente adverso. A ascensão de Naruto em poder, impulsionada pela sua determinação e não pela vingança, fez com que Sasuke se sentisse ameaçado e o levou a buscar poder com Orochimaru. Contudo, no Shippuden, um Naruto mais maduro, graças ao treinamento com Jiraiya, impactou a vida de Chiyo, uma anciã marcada pela guerra que passou a depositar esperança na nova geração ao ver o esforço de Naruto para salvar um amigo de outra vila.
O confronto filosófico com Nagato, um antigo aspirante a Hokage cujas circunstâncias o desviaram de seu caminho, é um dos pontos altos da série. Enquanto Naruto encontrava força em seus laços, os laços de Obito lhe causavam sofrimento. O diálogo entre Naruto e Obito reacendeu o desejo adormecido de Obito de proteger as pessoas e ser reconhecido. Obito, vítima do ciclo de ódio do mundo ninja, exemplifica a tragédia que Nagato e Naruto tanto desejavam mudar.
Mesmo o teimoso Sasuke, eventualmente, sucumbiu ao "Discurso no Jutsu" de Naruto. Levou tempo, mas a persistência e a genuína preocupação de Naruto finalmente romperam a escuridão que consumia Sasuke. No final, Sasuke confessou sua inveja de Naruto, que nunca precisou se desviar de si mesmo ou fugir de suas dores. Naruto era a luz na escuridão do mundo de Sasuke, e sua amizade inabalável representava a empatia que todos deveriam ter uns pelos outros.
O sucesso do "Discurso no Jutsu" de Naruto reside no fato de que os vilões da história possuem motivações complexas para suas ações. Eles não são simplesmente maus; suas escolhas são moldadas por suas experiências e sofrimentos. A capacidade de Naruto de tocar essas feridas e oferecer uma perspectiva diferente é o que possibilita a transformação.
Ao longo de sua jornada, Naruto conquistou o respeito de todos, tornou-se Hokage, salvou seu melhor amigo e construiu a família que sempre almejou. Sua relação com Hinata, marcada por uma timidez surpreendente para um extrovertido, floresceu em um amor genuíno, onde ambos se influenciaram mutuamente.
No entanto, a pergunta persiste: por que Naruto parece tão triste e desanimado na vida adulta, em Boruto? A resposta reside na tendência humana de nos acostumarmos com as conquistas. A sociedade impõe um ciclo de expectativas desde o nascimento, e ao atingir esses objetivos, a euforia inicial se esvai, dando lugar a uma nova busca. Pesquisas indicam que a felicidade tem um formato de U, atingindo o pico na juventude, declinando na meia-idade (coincidindo com a fase de conquistas) e voltando a subir na velhice, quando a pressão por novas conquistas diminui.
O Naruto adulto de Boruto está nessa fase de declínio, adaptando-se às responsabilidades e desafios do cargo de Hokage. A vida de líder é árdua e exige um equilíbrio que ele ainda parece estar buscando, o que se reflete em suas dificuldades em lidar com a própria família.
A jornada de Naruto, do sofrimento à aceitação, da luta à conquista, e finalmente à adaptação, é intrinsecamente humana. Sua personalidade não mudou; ele apenas adquiriu uma compreensão mais profunda da realidade. Seus desafios mudaram, e ele está se adaptando a eles.
A experiência de assistir Boruto pode evocar um sentimento semelhante. A percepção de que a nova geração não atinge o mesmo nível do Naruto clássico causa uma estranha sensação de perda de uma época que não voltará mais. Mas a vida é feita de ciclos, e assim como crescemos acompanhando Naruto, novas gerações crescerão com Boruto. A mensagem final é que a jornada, com seus altos e baixos, é sempre mais importante do que o destino final. Naruto, assim como nós, está aprendendo essa lição.
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