A figura de Shikamaru Nara, do universo Naruto, ressoa com muitos por sua postura peculiar diante da vida e de suas próprias ambições. Longe da busca incessante por grandeza que move outros personagens, Shikamaru abraça uma certa indolência estratégica, aceitando as possíveis "desvantagens" de não ser excessivamente ambicioso. Ele reconhece que talvez não alcance feitos memoráveis ou o reconhecimento de seus pares da mesma forma, e demonstra uma notável tranquilidade diante dessa perspectiva. Essa aceitação nos confronta com uma verdade muitas vezes negligenciada: a maioria de nós, na vida real, não alcançará as metas grandiosas que idealizamos. As estatísticas mostram que uma parcela significativa da população não concretiza seus planos anuais, elevando a probabilidade de frustração diante de ambições não realizadas.
A ambição, como uma moeda com duas faces, pode tanto impulsionar indivíduos a um nível de energia superior na busca por seus objetivos quanto mergulhá-los em uma profunda frustração caso essas aspirações não se concretizem. Para aqueles que se identificam com a postura de Shikamaru, seja por uma predisposição biológica, uma maior demanda de recursos cerebrais para a ação ou simplesmente por um nível de ambição inerentemente menor, a jornada da vida pode parecer diferente.
Ao acompanharmos a trajetória de Naruto e seus companheiros, incluindo as conquistas notáveis de Shikamaru, é comum sentirmos uma ponta de que "poderíamos ter alcançado mais" em nossas próprias vidas. Essa sensação, recorrente em nossa sociedade, pode gerar um sofrimento silencioso. Contudo, Shikamaru se destaca por sua habilidade em lidar com essa realidade, aceitando suas diferenças e desvinculando-se da necessidade de perseguir os mesmos sonhos grandiosos de seus colegas.
Um traço marcante da personalidade de Shikamaru é sua baixa suscetibilidade à influência externa. Essa característica possui um lado positivo, permitindo-lhe viver uma vida mais autêntica, fundamentada em suas próprias convicções, com menor preocupação com as escolhas e os caminhos trilhados pelos outros. Por outro lado, essa mesma independência o torna menos motivado pelas ações e conquistas alheias.
A liberdade de sonhar com o que quisermos é inegável. No entanto, é crucial reconhecer que toda aspiração demanda um preço. A busca por uma vida grandiosa e a ambição de alcançar feitos notáveis exigirão sacrifícios e esforços consideráveis. Da mesma forma, a escolha de não perseguir grandes ambições também acarreta suas próprias consequências. O equilíbrio, nesse contexto, se mostra como um caminho sábio. Atingir objetivos, mesmo que modestos, é fundamental para o bem-estar do nosso cérebro. O sistema de recompensa cerebral, impulsionado pela dopamina, sustenta os sentimentos positivos associados a prazeres simples, conquistas e reconhecimentos.
Em contrapartida, o sucesso e a conquista podem atuar como um "tranquilizante natural", auxiliando na redução dos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, e possuindo até mesmo leves qualidades antidepressivas. Atingir metas, mesmo que pequenas, fortalece a autoconfiança e aumenta a sensação de controle sobre a própria vida.
Apesar dos benefícios da ambição e da conquista, a perspectiva de Shikamaru, focada na reflexão individual e na independência de valores externos, merece profunda admiração. Em uma sociedade que frequentemente nos bombardea com informações, crenças e entretenimento externos, vendendo a ideia de que a felicidade reside em fatores externos, Shikamaru busca seus valores internamente, desvinculando-se da necessidade de validação externa. O renomado psicólogo Abraham Maslow observou que as pessoas mais felizes não eram necessariamente as mais ricas, atraentes ou inteligentes, mas sim aquelas que viviam vidas autênticas, realizando seu potencial e experimentando momentos genuínos de alegria e conexão.
Shikamaru personifica a capacidade de contemplar a beleza e a satisfação em coisas simples da vida, como o ato de observar a natureza em um estado de plena atenção. Curiosamente, mesmo não possuindo uma inclinação natural para o esforço, ele se mobiliza quando necessário, especialmente quando envolve as pessoas que valoriza.
O neurocientista William James sabiamente afirmou que "a ação parece seguir o sentimento, mas na verdade a ação e o sentimento andam juntos". Ao regular a ação, que está sob nosso controle mais direto, podemos influenciar indiretamente o sentimento. Portanto, iniciar comportamentos motivados através do livre-arbítrio pode fortalecer as conexões neurais associadas à motivação, sugerindo que a mudança pode, de fato, vir de fora para dentro. Uma situação desafiadora pode nos impulsionar a agir, e essa ação, gradualmente, pode transformar nosso comportamento e nossa própria motivação interna.
Shikamaru é um personagem tão amado justamente por sua identificação com uma postura que muitos adotam em momentos de estresse: a busca pela quietude e pela introspecção. No fundo, apreciamos esses momentos de pausa. A atenção plena ao presente e a capacidade de encontrar prazer em coisas simples podem enriquecer profundamente a vida, como se hackeássemos nosso cérebro para derivar satisfação de desejos mais básicos. Ao mesmo tempo, a importância de ter objetivos e sonhos ambiciosos não pode ser subestimada, pois eles nos impulsionam e nos dão um senso de direção. A visão de uma vida tranquila em um jardim com a família pode ser maravilhosa, mas para alcançar essa visão, talvez seja necessário almejar um pouco mais.