Em um universo vasto de animes, poucos conseguem tecer tramas tão intrincadas e envolventes como Steins Gate. Classificado como uma obra-prima da ficção científica e do suspense, este anime japonês transporta o espectador para um mundo onde a tênue linha entre o passado, o presente e o futuro se torna cada vez mais instável nas mãos de um grupo peculiar de cientistas amadores.
O foco central da narrativa reside em um cientista excêntrico e seu círculo de amigos igualmente singulares. Juntos, eles operam um laboratório improvisado onde, acidentalmente, desenvolvem uma tecnologia capaz de enviar mensagens para o passado. Essa descoberta fortuita logo os coloca no radar de uma poderosa organização com seus próprios interesses obscuros em viagem no tempo, desencadeando uma teia de eventos que se intensificam a cada nova alteração na linha do tempo.
É crucial ressaltar que a engrenagem da história de Steins Gate começa a girar em sua totalidade apenas na segunda metade da série. A primeira parte da narrativa dedica-se a estabelecer o clima de suspense, aprofundar o funcionamento da máquina do tempo – inicialmente limitada ao envio de mensagens – e desenvolver os personagens, especialmente a enigmática figura feminina de cabelos vermelhos. Sua aparição surpreendente no final do primeiro episódio, após o protagonista acreditar tê-la visto morta, adiciona uma camada intrigante ao mistério inicial.
A personagem feminina, que se junta à equipe do laboratório, torna-se fundamental na exploração das possibilidades e, principalmente, das consequências da manipulação temporal. A primeira metade da série serve como um alicerce, construindo as relações entre os personagens e preparando o terreno para os eventos dramáticos que se desenrolarão posteriormente. É um período de relativa calma, onde os experimentos com a máquina do tempo parecem inofensivos, com pequenas mudanças no passado que, a princípio, não demonstram grandes repercussões. No entanto, a analogia do efeito borboleta se torna cada vez mais palpável, à medida que as alterações sutis no passado geram consequências imprevistas e de grande magnitude no presente.
Revelar os eventos cruciais que marcam o ponto de inflexão na segunda metade da série seria privar o novo espectador de uma das experiências mais impactantes da obra. Uma cena específica, por volta do episódio 12 ou 13, serve como o catalisador para uma escalada de tensão e urgência que contrasta fortemente com o ritmo mais contemplativo da primeira parte. A partir desse ponto, o suspense se intensifica, impulsionado por ganchos habilidosos ao final de cada episódio, potencializados por uma trilha sonora marcante, especialmente a ending, que contribui significativamente para a atmosfera da série.
Portanto, para aqueles que iniciarem sua jornada em Steins Gate, a paciência na primeira metade é uma virtude. O ritmo mais lento e a aparente falta de ação são propositais, servindo para construir a base narrativa e emocional que tornará a segunda metade da série uma experiência inesquecível. A urgência e a gravidade dos eventos que se sucedem prendem o espectador de forma avassaladora, culminando em um final que pode ser ainda mais satisfatório com a adição de um OVA que oferece um fechamento mais completo à história.
No entanto, a recomendação não se estende ao filme lançado posteriormente. Desvinculado da trama original e com sérios problemas de consistência na sua representação de viagem no tempo, o filme se torna uma experiência problemática para aqueles que apreciaram a coesão temporal da série principal. Mesmo para espectadores menos preocupados com a lógica científica, o filme peca por um ritmo lento e pela ausência de um clímax impactante, elementos que são marcas registradas do anime.
Visualmente, Steins Gate não se destaca por uma animação exuberante, mas apresenta um design de personagens atraente e uma direção que ocasionalmente explora sequências de animação mais fluidas. No entanto, sendo um suspense de ritmo cadenciado em sua maior parte, a obra não demanda um nível de animação extraordinário para transmitir sua atmosfera e tensão.
Para os apreciadores de romance, Steins Gate desenvolve um relacionamento cativante entre o protagonista e a misteriosa personagem de cabelos vermelhos, seguindo a rota da visual novel original em que se baseia. O desfecho completo desse romance é explorado de forma mais aprofundada no OVA, tornando-o uma adição essencial para aqueles que se envolverem com a dinâmica entre os personagens principais.
A longevidade e o impacto de Steins Gate são inegáveis, consolidando-o como uma recomendação primordial para qualquer fã de ficção científica, especialmente aqueles fascinados pela complexidade da viagem no tempo. Diferente de muitas obras que utilizam a viagem no tempo como um recurso narrativo pontual, Steins Gate a coloca no centro de sua trama, explorando suas implicações e paradoxos de forma consistente e envolvente ao longo de seus episódios. A antecipação pelo spin-off, Steins Gate 0, baseado em outra rota da visual novel, apenas reforça o legado duradouro desta obra singular.