O sexto capítulo da mais recente adaptação de "Anne Shirley" mergulha em dois aspectos contrastantes da vida da adorável ruiva: um desastre capilar hilário e o florescimento de sua paixão por escrita. Este episódio, que adapta os capítulos vinte e seis e vinte e sete do livro de L.M. Montgomery, demonstra como a série equilibra fielmente a essência da história original com toques de interpretação moderna.
Uma das decisões mais notáveis do episódio é a forma como retrata o infame incidente do cabelo verde de Anne. Em vez de simplesmente mostrar uma cena engraçada, a produção opta por uma abordagem quase de terror. A iluminação sombria, os ângulos de câmera dramáticos e a atmosfera tensa transformam o desespero de Anne em algo palpável. Essa escolha estilística permite que o espectador sinta a profundidade de sua angústia e apreensão em relação à reação de Marilla.
Essa abordagem também destaca a evolução de Marilla como personagem. Se o incidente tivesse ocorrido dois anos antes, sua fúria seria inevitável. No entanto, agora, Marilla demonstra uma compreensão e compaixão que indicam o quanto Anne a transformou. A cena em que Matthew sutilmente a incentiva a expressar seus sentimentos por Anne, empurrando a revista compilada por Anne e suas amigas em sua direção, é um exemplo sutil e realista de sua comunicação fraterna. Marilla ainda precisa ser lembrada de demonstrar afeto, mas sua disposição em ajudar Anne a superar o erro revela seu crescimento pessoal.
A primeira metade do episódio explora a criação do clube de histórias de Anne, um tributo delicioso aos estilos literários populares na época em que Anne e Montgomery viveram. Anne descreve suas histórias como "patéticas", usando o termo no sentido de "cheias de pathos" ou sofrimento, um significado diferente do uso comum da palavra hoje. Ela se inspira em autoras como Mary Elizabeth Braddon, Mrs. Georgie Sheldon e Susan Warner, cujas obras, focadas em dramas emocionais, eram amplamente lidas e apreciadas, embora frequentemente negligenciadas pela crítica literária tradicional.
O conto de Anne, repleto de personagens chamados Cordelia, Geraldine e Bertram envolvidos em complexas tramas de amor e tragédia, é uma paródia exagerada desses estilos literários. A reação de Marilla e da Tia Josephine ao ouvirem a história, expressa em gargalhadas, demonstra o quão ridícula a narrativa soa para os adultos, apesar da seriedade com que Anne a aborda.
O mais interessante é a observação de Diana sobre as semelhanças entre os personagens de Anne e seus amigos, com Gilbert, mesmo que Anne ainda insista em odiá-lo, a verdade dos seus sentimentos pode estar escondida nas suas histórias.
O próximo episódio promete abordar outra cena icônica do romance, e a expectativa é alta para ver como essa adaptação a interpretará. Embora algumas omissões da história original possam incomodar os fãs mais fervorosos, como a ausência da Tia Josephine, a série parece fazer escolhas ponderadas, como a remoção de um comentário antissemita que Anne faz no livro, garantindo que a essência da história seja preservada e apresentada de forma relevante para o público moderno.
Em última análise, como qualquer obra de arte, a interpretação de "Anne Shirley" é subjetiva e individual. E, ao retratar a própria interpretação de Anne sobre obras literárias famosas, a série convida o público a formar suas próprias opiniões sobre a história e seus personagens.