A beleza reside frequentemente nos encontros mais inesperados. Às vezes, escolhemos um animal, outras vezes, somos escolhidos por ele. Em "With You and the Rain", a relação entre Fuji e Kimi, seu novo… cachorro… é um pouco dos dois. Desconhecemos como um tanuki (cão-guaxinim japonês) teve a ideia de se colocar em uma caixa de papelão e pedir para ser adotado. Também não sabemos se Fuji foi a primeira pessoa a notá-lo, mas o que fica evidente é que houve uma seleção mútua no instante em que ela parou na chuva para observá-lo.

Essa dinâmica singular é um dos maiores trunfos da adaptação para animação e do mangá original. A narrativa compreende a essência da relação entre um indivíduo e seus animais de estimação, especialmente no contexto de uma pessoa introvertida e o animal com quem convive. Baseando-se no que aprendemos sobre Fuji no terceiro episódio, Kimi é o ser com quem ela mais interage, e não apenas diariamente. Ela possui bons amigos e uma família amorosa, mas parece preferir passar seu tempo sozinha, dedicando-se ao seu trabalho como autora ou explorando lugares por conta própria. Kimi é um companheiro que não demanda atenção constante, o que a agrada. Quando ela confessa à amiga Mimi que ir à praia com outras pessoas não é sua praia, não é por maldade; ela simplesmente expressa que se sente mais relaxada ao realizar atividades sozinha… ou com um "cachorro" em vez de outra pessoa. Há algo de reconfortante e identificável nisso, e na história como um todo.

Fuji não é uma misantropa; ela é apenas uma introvertida. "With You and the Rain" retrata essa faceta de sua personalidade com sensibilidade. Ela conhece seus vizinhos e interage com eles, recebe seus amigos em casa e conversa frequentemente com sua família. No entanto, ela não sai com seus amigos e a vizinha com quem parece ter maior proximidade é uma garotinha, o que pode representar uma interação social menos exigente. Kimi preenche a lacuna entre animal de estimação e companheiro de uma maneira que se encaixa perfeitamente com o estilo de vida de Fuji. Ele consegue escrever, permitindo conversas reais (embora muitos defendam que também é possível conversar com cães e gatos, mesmo que eles não consigam escrever), mas ele é quieto e se dedica a suas atividades de tanuki. Ele aprecia acompanhá-la em passeios ou simplesmente estar em casa com ela. É agradável de assistir.

A produção triunfa ao permitir que um tom gentil guie a história. Até mesmo o fato de que Kimi claramente não é um cachorro é tratado com leveza – o pai de Fuji acredita que ele seja um yokai (e provavelmente está certo, considerando a forma como a folha em sua cabeça se transforma), o veterinário sabe que não se trata de um cão e Mimi é repreendida por expressar a verdade em voz alta –, mas Fuji simplesmente ignora tudo isso. Ela não é tola, então provavelmente sabe que seu filhote é uma criatura com alguma carga folclórica, mas isso não é relevante para ela. Ela é adulta; se deseja ter um tanuki de estimação no sentido mítico, ela o terá. O resto é apenas ruído.

Essa abordagem cria uma situação peculiar em que o público pode desejar mais respostas do que provavelmente receberá. Kimi é apenas ruim em magia tradicional de tanuki? Essa é sua forma transformada? Ele está encenando a história apócrifa sobre como os gatos se domesticaram, simplesmente entrando na casa de alguém no antigo Oriente Médio e declarando: "Eu moro aqui agora, humano"? Em quase qualquer outra produção, haveria preocupação com Kimi tramando algo. Após três episódios de interações adoráveis e saudáveis entre animal de estimação e tutor, é plausível que ele simplesmente desejasse ser cuidado, amado e retribuir o mesmo.

Relacionamentos com animais que compartilham nosso espaço podem assumir diversas formas. "With You and the Rain" se destaca ao exibir a gama de emoções, desde o engraçado ao doce, até a camaradagem. Kimi cava na areia, fica preso na lata de lixo e se esconde de visitas que o deixam desconfortável. Seja tanuki ou cachorro, ele é um companheiro animal reconhecível. Existem maneiras piores de passar o tempo do que se deliciar com essa doçura serena, e se a série mantiver a qualidade, poderemos aguardar ansiosamente por uma meia hora de paz a cada semana para atenuar os horrores do mundo real.