A introdução da Inteligência Artificial (IA) no mundo da animação japonesa, o famoso anime, tem gerado debates acalorados e preocupações crescentes entre os fãs. O que antes parecia ficção científica, agora se torna uma realidade palpável, com estúdios de animação explorando o potencial da IA para otimizar e transformar seus processos criativos.
Em 2023, o WIT Studio já demonstrava interesse na tecnologia, produzindo o curta-metragem "The Dog and the Boy", onde os cenários foram criados utilizando IA. Esse foi um prenúncio do que viria a seguir. Em 2025, o curta "Twin Hinahima", da KaKa Creation, foi produzido majoritariamente com o auxílio da IA, elevando a discussão sobre o papel da tecnologia na animação a um novo patamar.
Agora, a gigante Toei Animation, conhecida por sucessos globais, parece seguir os passos do WIT Studio, e talvez até ir além. No relatório financeiro de 2025 da Toei Animation, na seção de perspectivas para o ano fiscal de 2026, a empresa declara sua intenção de "buscar co-desenvolver novas oportunidades de negócios e melhorar a eficiência e qualidade de nossa produção, capitalizando as sinergias entre IA e tecnologias de produção de animação."
A Toei Animation vislumbra diversas aplicações futuras para a IA, incluindo a geração de storyboards e layouts, colorização e correção de cores, correção de desenhos de linha, geração de quadros intermediários e criação de cenários a partir de fotografias. A empresa já experimentou a tecnologia em projetos recentes, como a colaboração com a PFN em 2021 para criar o curta experimental "Urvan", utilizando a ferramenta Scenify da PFN para transformar fotos de paisagens reais em cenários de anime, buscando reduzir o tempo de trabalho em cenários em cerca de um sexto.
Essa perspectiva tem deixado muitos fãs apreensivos, especialmente no que diz respeito a "One Piece", a maior propriedade da Toei Animation, que recentemente retornou de um hiato de seis meses. A preocupação reside no possível impacto da IA na qualidade da animação, na autenticidade artística e no papel dos animadores humanos. A essência e o carisma únicos que tornam "One Piece" tão amado poderiam ser diluídos pela automatização?
No entanto, nem tudo são sombras. Funcionários da Toei Animation se manifestaram para tranquilizar os fãs, esclarecendo que não há planos de implementar IA nas produções de animação em andamento. O animador Vincent Chansard, por exemplo, confirmou que a IA não está sendo utilizada em "One Piece".
Além disso, alguns analistas interpretam a declaração de 2026 sobre IA como uma jogada de relações públicas, em vez de uma mudança real na produção de anime. A empresa pode estar buscando demonstrar sua abertura à inovação e atrair investimentos, sem necessariamente comprometer a qualidade artística de suas produções.
A discussão sobre a IA no anime está longe de ser concluída. Enquanto alguns temem a perda de empregos e a homogeneização da arte, outros veem na tecnologia uma ferramenta para otimizar processos, reduzir custos e permitir que os artistas se concentrem em aspectos mais criativos da produção.
O futuro da animação japonesa pode ser uma colaboração entre humanos e máquinas, onde a IA atua como um auxiliar, liberando os animadores para se dedicarem à alma e à expressividade que tornam o anime tão especial. Resta saber como essa parceria se desenvolverá e qual será o impacto real na indústria e na experiência dos fãs. O debate continua, e o futuro da animação se desenha a cada novo passo da tecnologia.