Recentemente, uma conversa com um conhecido ilustrou uma realidade curiosa do universo Web3: o conhecimento superficial sobre tecnologias disruptivas, como o Bitcoin, muitas vezes chega às novas audiências através de memes e narrativas simplificadas, em detrimento da compreensão de projetos e jogos genuinamente inovadores. Essa constatação levanta um ponto crucial sobre a forma como a Web3 é percebida e como podemos engajar novos usuários de maneira mais responsável e educativa.
A reação inicial pode ser de frustração ao constatar que a porta de entrada para muitos no mundo da Web3 se dá por meio de promessas de retornos rápidos e fáceis, como os que vimos em projetos com retornos anuais estratosféricos em stablecoins ou na euforia de altas repentinas do Bitcoin, levando muitos a comprar no pico. Até mesmo a associação do nascimento do Bitcoin com simuladores de farm ou projetos com economias insustentáveis (os chamados "ponzinomics") demonstra uma compreensão distorcida do potencial real da tecnologia.
No entanto, essa onda inicial de pessoas atraídas pelas razões menos ideais pode ter um lado positivo. Dentro dessa massa de curiosos, existe uma parcela que, ao ter contato com a tecnologia, pode despertar para o valor e o potencial real da Web3. O desafio reside em como apresentar a esses indivíduos as inovações genuínas que estão sendo construídas, como os jogos com modelos econômicos sustentáveis e as aplicações descentralizadas com casos de uso concretos.
A abordagem de ignorar ou se irritar com aqueles que chegam à Web3 através de narrativas simplificadas e, por vezes, enganosas, não se mostra eficaz. A chave está em aproveitar esse primeiro contato para educar e orientar essas pessoas, ajudando-as a discernir o que é um projeto sério e o que é uma armadilha financeira. A falta de compreensão das consequências e responsabilidades inerentes ao investimento em criptoativos pode levar a perdas significativas, o que, por sua vez, pode gerar uma associação negativa com toda a tecnologia Web3.
Compartilhar experiências positivas com aplicações reais da Web3, como coleções de NFTs com utilidade e jogos com economias bem estruturadas, pode ser uma forma eficaz de despertar o interesse genuíno. No entanto, é preciso reconhecer que a busca por enriquecimento rápido e fácil é uma força poderosa e persistente.
A demanda por narrativas de enriquecimento rápido é inerente à natureza humana. É por isso que as meme coins, os jogos de azar disfarçados e os esquemas Ponzi prosperam. Embora o termo "Ponzi" seja frequentemente utilizado de forma inadequada, referindo-se a projetos com modelos econômicos insustentáveis, a essência da promessa de ganhos fáceis e rápidos atrai um público considerável.
Essa busca pela "oportunidade única" e pelo "lucro fácil" torna o alerta sobre a urgência de investir um sinal de perigo. Indivíduos que incitam a investir rapidamente, sob o pretexto de que os primeiros a entrar serão os mais beneficiados, geralmente estão promovendo esquemas prejudiciais, nos quais a pressão impede a análise crítica e a tomada de decisões conscientes.
A conclusão a que se chega é que tentar lutar contra a demanda por esquemas Ponzi é uma batalha perdida. Em vez disso, a estratégia mais eficaz é aproveitar a atenção gerada por esses fenômenos virais para educar o público, promovendo a responsabilidade e o senso crítico. Isso implica em explicar claramente os riscos envolvidos em investimentos com promessas irreais e desmistificar a ideia de ganhos fáceis.
Inevitavelmente, ao abordar temas como o Bitcoin, corre-se o risco de ser rotulado como um "Crypto Bro", mesmo que o objetivo seja alertar sobre os perigos de investimentos desinformados. No entanto, o silêncio diante da desinformação e da potencial ruína financeira de muitos não é uma opção.
Portanto, a abordagem deve ser a de entender a inevitabilidade desses momentos de euforia especulativa e aproveitar a oportunidade para fornecer informações claras e responsáveis. Aqueles que, mesmo compreendendo os riscos, optam por participar de projetos com dinâmicas questionáveis, o fazem por sua conta e risco. O problema surge quando a narrativa de enriquecimento fácil obscurece a compreensão da natureza especulativa e, muitas vezes, insustentável desses empreendimentos.
A distinção fundamental reside entre investir com conhecimento dos riscos e acreditar ingenuamente em promessas de ganhos fáceis e rápidos. O papel de criadores de conteúdo e educadores é o de trazer essa clareza, desmistificando a falsa promessa de "máquinas de mineração virtuais" que geram memecoins sem valor intrínseco.
Mesmo que alguns indivíduos lucrem com esses esquemas, é crucial dissociar o sucesso individual da validade e sustentabilidade do projeto subjacente. O lucro obtido em um esquema Ponzi não o torna legítimo ou valioso a longo prazo. A analogia com o cassino é pertinente: participar é uma escolha individual, mas fazê-lo com a ilusão de um investimento sólido é um erro perigoso.
Em última análise, a inevitabilidade dos esquemas Ponzi e de outras "falcatruas coletivas" exige uma postura de aproveitamento do momento para educar, alertar e promover a responsabilidade. Se, após a compreensão dos riscos, a decisão de participar for consciente e com recursos excedentes, a escolha é individual. O perigo reside na ilusão e nas decisões financeiras impulsivas baseadas em promessas irreais.
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