A jornada de vida, com seus aprendizados e desafios, encontra um paralelo fascinante na história de Fushi, o protagonista do anime "To Your Eternity" (Fumetsu no Anata e). Essa criatura imortal, desprovida de consciência inicial, embarca em uma existência eterna onde cada encontro e cada perda moldam sua compreensão do mundo e de si mesmo. A narrativa explora a filosofia de que o crescimento e o desenvolvimento ocorrem através de novos estímulos e experiências, uma verdade que ressoa não apenas para um ser imortal como Fushi, mas também para nós, seres humanos com nossa finitude.
Fushi possui a capacidade única de se regenerar e de assumir a forma e as características de seres com os quais teve contato significativo. Essa habilidade ilustra poderosamente como a experiência o afeta, impulsionando seu crescimento e aprendizado. De maneira similar, nós aprendemos ao vivenciar novas situações, embora nossa mortalidade nos imponha um limite que Fushi não enfrenta. A experiência se revela como um dos nossos mais valiosos professores, uma lição central que o anime "To Your Eternity" nos apresenta de forma tocante.
Estudos em psicologia corroboram essa ideia. Pesquisadores demonstraram que adultos tomam decisões mais acertadas quando podem experimentar informações de probabilidade por si mesmos. A vivência direta, como jogar repetidamente na loteria, tende a gerar um aprendizado mais profundo do que a simples observação. Da mesma forma, a experiência em primeira mão reduz erros ao julgar dados estatísticos. Fushi personifica esse processo ao aprender através da prática: ao interagir com um lobo, ele se torna um lobo; ao conviver com um garoto solitário que eventualmente morre, ele assume a forma desse humano, aprendendo a sobreviver através de tentativas e erros, descobrindo a necessidade de se alimentar para manter o corpo vivo.
Inicialmente, Fushi não compreende sentimentos como a solidão do garoto. Sua evolução emocional e cognitiva se desenvolve à medida que ele experimenta estímulos mais intensos através do contato com outros seres. Na psicologia, esse processo é conhecido como desenvolvimento do repertório comportamental. A teoria sugere que a melhor maneira de aprender é testar e se colocar em situações desconfortáveis, permitindo que o cérebro processe o estímulo como algo normal e crie adaptações. O Beholder, o ser que criou e narra a jornada de Fushi, o guia implicitamente nessa exploração de novas experiências.
Pesquisas recentes em neurociência revelam que o córtex cerebral funciona como uma máquina de memória, constantemente detectando novidades para refinar previsões futuras. Estudos com camundongos mostraram que neurônios rastreiam estímulos sensoriais ao longo do tempo, formando "ecos" que ajudam a distinguir novas informações. Modelos de redes neurais replicaram essas descobertas, indicando que a estrutura do cérebro naturalmente suporta a detecção de novidades, uma função crucial para a percepção, aprendizado e tomada de decisões.
A evolução de Fushi o leva a experimentar não apenas o aprendizado cognitivo, mas também o sofrimento emocional. A primeira vez que ele vivencia a dor psicológica é ao conhecer March, uma garotinha destinada ao sacrifício. Através de March, Fushi aprende as primeiras palavras, incluindo "obrigado" e o significado da "dor". Rotular sensações corporais e emoções tem um efeito atenuante na experiência real desses sentimentos. Estudos demonstraram que nomear estados emocionais enquanto se observa imagens negativas reduz a angústia. A morte trágica de March, tentando salvar sua amiga, marca a primeira vez que Fushi sofre por um humano, uma dor não física, mas mental, para a qual a palavra se torna a única forma de expressão.
Em sua jornada, Fushi encontra Gugu, o primeiro personagem a lhe ensinar lições mais profundas. A convivência com Gugu, que o ajuda a lutar contra os Nokers (criaturas que ameaçam Fushi), permite que ele enfrente seus medos e experimente laços emocionais mais fortes. Ao viver com um grupo de pessoas, Fushi aprende a cozinhar, a cuidar e a vivenciar uma dinâmica familiar, intensificando seu aprendizado emocional. A psicologia nos ensina que quanto maior o estímulo emocional, mais forte é a memória criada. As emoções atuam como marcadores que enfatizam aspectos importantes das experiências, tornando-as mais memoráveis, especialmente aquelas ligadas à sobrevivência. Eventos carregados de emoção são lembrados com mais clareza do que os neutros, um mecanismo evolutivo que nos ajuda a evitar perigos futuros.
O Beholder adverte Fushi sobre não permanecer em um lugar por muito tempo para evitar laços profundos, pois a falta de novos estímulos limitaria seu aprendizado e evolução. Curiosamente, pesquisas com animais mostram que novas experiências promovem bem-estar cognitivo, aumentando a atividade social e a capacidade de lidar com o estresse. Novas experiências também estão ligadas a um maior senso de bem-estar subjetivo, uma recompensa do cérebro pelo aumento do repertório comportamental. No entanto, Fushi, após criar laços com Gugu, resiste à ideia de viajar e permanece por quatro anos. Durante esse tempo, a falta de novos inimigos impede a evolução de seus poderes e o envelhecimento de sua forma, mas ele desenvolve laços emocionais profundos, aprendendo o custo de amar através da eventual perda.
A jornada de Fushi o leva a testemunhar a crueldade humana e a aprender sobre a importância da dor para o crescimento. Ele encontra Tonari, uma garota que se apega a ele, e participa de um torneio onde precisa lutar para sobreviver, buscando sempre evitar matar. Fushi começa a sentir culpa pelas mortes ao seu redor, e o Beholder tenta explicar que nem todas as mortes são sua responsabilidade. Ele percebe a difícil verdade de que, às vezes, para proteger alguém, é necessário enfrentar o mal, uma responsabilidade que o paralisa em alguns momentos. O sofrimento pode diminuir a capacidade de sentir compaixão, colocando-nos em um estado de luta ou fuga. Fushi experimenta essa fadiga de empatia, e o excesso de estímulos começa a torná-lo mais humano, com a vontade de proteger seus entes queridos, mesmo que isso signifique agressão.
A expressão de Fushi muda ao longo de suas experiências, perdendo a pureza inicial. A alegria se mistura à dor, e ele compreende que, apesar de seu poder, não pode estar em todos os lugares nem salvar todos. A inevitabilidade da perda se torna uma constante em sua vida, pois todos os seres vivos têm um ciclo natural de fim. Pioran, uma senhora de 90 anos que se torna próxima de Fushi, apesar de seu passado, ensina-lhe sobre o cuidado e a aceitação do envelhecimento e da morte. A demência de Pioran e sua eventual partida deixam Fushi sozinho novamente, levando-o a considerar o isolamento como forma de evitar a dor. No entanto, a necessidade humana de relações sociais é intrínseca. Estudos mostram que a companhia de outros, especialmente amigos, aumenta a felicidade. Os laços, mesmo que tragam dor, são essenciais para o crescimento. Fushi, ao longo de sua jornada, demonstra a tendência humana de errar e aprender através desses erros. No final, "To Your Eternity" nos lembra que, embora o isolamento possa parecer uma proteção contra o sofrimento, o custo de não desenvolver vínculos e experimentar a vida em sua plenitude pode ser muito alto. A experiência, com suas alegrias e dores, é o que verdadeiramente nos molda e nos ensina.
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