A adaptação cinematográfica Romance Genérico em Kowloon de Chihiro Ikeda, baseada no mangá de Jun Mayuzuki, mergulha no intrigante mundo da Cidade Murada de Kowloon, ressuscitada como um experimento para desvendar os segredos da imortalidade humana. A trama acompanha Reiko Kujirai, uma agente imobiliária sem memórias de seu passado, que descobre uma fotografia perturbadora: seu colega, Hajime Kudo, ao lado de uma mulher idêntica a ela. Essa descoberta a lança em uma jornada para desvendar os mistérios de sua própria existência.
Para quem acompanhou a adaptação para anime, uma das maiores preocupações seria como condensar uma história complexa em um filme com menos de duas horas de duração. A resposta, infelizmente, parece ser a remoção de elementos importantes. O filme concentra-se quase que exclusivamente na relação entre Kujirai e Kudo, negligenciando personagens secundários que enriqueciam a narrativa no anime.
A decisão de cortar personagens como Yaomay, cuja amizade com Kujirai era um ponto alto no anime, diminui o impacto emocional da história. A personagem, apesar de bem interpretada, perde a profundidade e a importância que possuía na versão original. Até mesmo o vilão, Hebinuma, é reduzido a um papel unidimensional, servindo apenas como um expositor de informações, o que é uma decepção.
No que diz respeito aos protagonistas, Riho Yoshioka entrega uma atuação mais convincente como Kujirai, transmitindo a confusão e a busca por identidade da personagem. Kōshi Mizukami, por outro lado, interpreta Kudo de forma mais caricata, o que pode prejudicar a seriedade de alguns momentos.
O filme apresenta algumas cenas novas e interessantes, explorando a influência do subconsciente de Kudo na cidade de Kowloon. Visualmente, a fotografia de Nobuyasu Kita, conhecido por seu trabalho com Takashi Miike, é um dos pontos fortes do filme, capturando a atmosfera nostálgica da cidade e refletindo a crise de identidade de Kujirai através de belas tomadas com espelhos. Os cenários práticos também são bem construídos, contribuindo para a imersão no universo de Kowloon.
No entanto, nem tudo são flores. Os efeitos visuais, em sua maioria computação gráfica, deixam a desejar, destoando da qualidade dos demais elementos visuais. O final do filme, por sua vez, diverge significativamente do anime, colocando o foco nos problemas de luto de Kudo, em vez da jornada de Kujirai em busca de sua individualidade. Essa mudança temática pode não agradar aos fãs da adaptação original.
É importante notar que o filme possui uma cena pós-créditos que, aparentemente, se aproxima mais do final do anime. No entanto, a falta de contexto para quem não acompanhou a versão original pode tornar essa cena confusa e sem impacto.
Em suma, a adaptação cinematográfica de Romance Genérico em Kowloon decepciona ao sacrificar elementos importantes da história em prol da concisão. A perda de personagens secundários e a mudança no foco temático diminuem o impacto emocional da narrativa. Apesar de contar com boas atuações e uma fotografia marcante, o filme acaba se tornando um pálido reflexo de outras obras de ficção científica e mistério. Será interessante comparar as três versões de Romance Genérico em Kowloon quando o mangá for concluído, mas, por enquanto, o filme certamente não é a melhor delas.