A temporada de abril de 2025 trouxe consigo uma obra que, no mínimo, desafia as convenções narrativas e a sanidade do espectador: um anime carinhosamente apelidado de "Bel da Shopee" devido à semelhança de seu protagonista com a figura icônica da publicidade online, e também por sua notável falta de percepção, especialmente em relação ao interesse feminino. A alcunha reflete também a sensação de um produto "barato" e de qualidade questionável, embora com um elemento surpreendente que prende a atenção.

A premissa inicial, a de um protagonista incrivelmente poderoso, não é novidade no universo dos animes. A cada temporada surgem personagens com habilidades que desafiam a lógica, como o protagonista da obra do Healer na mesma leva de lançamentos. No entanto, o nível de poder e a forma como ele se manifesta em "Bel da Shopee" atingem um patamar bizarro, beirando o incompreensível. A reação do espectador invariavelmente se resume a um incrédulo "Como? Como isso é possível?".

A trama, embora aparentemente simples, serve como um palco para as proezas inacreditáveis do protagonista. Originalmente um faz-tudo desvalorizado em um grupo de aventureiros, ele é dispensado por sua suposta inutilidade em combate. Buscando um novo emprego, ele demonstra habilidades em trabalhos braçais que desafiam as leis da física e do tempo, completando tarefas que levariam meses em questão de dias, para o espanto e a demissão imediata de seus empregadores.

Em suas interações sociais, o protagonista exibe uma sinceridade refrescante ao elogiar a beleza feminina, mas sua completa alheabilidade a qualquer nuance romântica beira o cômico, dada a evidente atração que desperta. Em uma sequência, ao minerar com uma colega, ele encontra pedras preciosas de valor inestimável, descartando-as como insignificantes em sua busca por um metal lendário. Suas proezas na mineração e na construção atingem níveis absurdos, construindo túneis e até mesmo uma casa em questão de horas, sem exibir qualquer velocidade ou habilidade sobre-humana aparente durante o processo. A lógica da execução de suas tarefas é simplesmente ignorada, exigindo do espectador uma suspensão completa da descrença.

A verdadeira natureza do protagonista começa a se insinuar quando é revelado que ele pode ter origens especiais, talvez de um local de semideuses, dada a sua naturalidade diante de feitos que seriam considerados milagrosos para outros. No entanto, suas supostas habilidades divinas nunca são demonstradas diretamente, permanecendo sempre implícitas em suas ações inexplicáveis. Em um confronto com golems, ele os "minera" em vez de lutar, desmantelando-os com facilidade e sem considerar o ato como combate, reforçando sua autoproclamada inaptidão para a luta, apesar de sua inegável eficácia.

O nível de poder do protagonista atinge o ridículo quando ele cura uma garota amaldiçoada, algo que nenhum mago do reino conseguiu, simplesmente cozinhando um arroz especial. Sua comida possui propriedades mágicas de cura e regeneração, elevando seu status de "overpowered" a patamares inéditos. A construção de um castelo inteiro em apenas três dias, sem qualquer explicação plausível de supervelocidade ou habilidades construtivas divinas, apenas intensifica a sensação de absurdo.

O autor parece ter dominado uma forma peculiar de "bait". Ao apresentar situações tão ilógicas e resoluções tão convenientes, ele prende a atenção do espectador pela pura curiosidade de testemunhar o próximo feito inacreditável. A cada episódio, o protagonista supera um novo limite do absurdo, deixando o público dividido entre o riso nervoso e a frustração diante da completa falta de lógica.

Apesar de suas qualidades questionáveis como narrativa coerente, "Bel da Shopee" consegue gerar uma estranha forma de entretenimento, impulsionada pela própria bizarrice de suas premissas. A completa falta de autoconsciência do protagonista em relação às suas habilidades extraordinárias, aliada à insistência do autor em ignorar qualquer explicação lógica para suas proezas, cria um ciclo vicioso de absurdos que, paradoxalmente, mantém alguns espectadores engajados. A busca por entender a origem do protagonista e a natureza de seus poderes inexplicáveis também serve como um fio condutor, mesmo que a resposta pareça cada vez mais distante.

Em suma, "Bel da Shopee" não é um anime que se destaca pela qualidade de sua narrativa ou animação. No entanto, sua capacidade de fisgar o espectador através de um fluxo constante de absurdos quase impensáveis é inegável. Se o autor é um gênio incompreendido ou simplesmente um mestre do "bait" de baixa qualidade, o tempo dirá. Por ora, resta acompanhar com uma mistura de exasperação e curiosidade as próximas proezas ilógicas do "Bel da Shopee".