Embora figurem como um dos pilares da Marvel Comics, os Vingadores nem sempre ocuparam o centro do palco editorial. Por longos anos, o protagonismo coube aos mutantes X-Men. Essa realidade, talvez surpreendente para os fãs familiarizados com a onipresença dos Vingadores no Universo Cinematográfico Marvel (MCU), mudou drasticamente com a chegada de Brian Michael Bendis e sua reformulação da equipe. Os Novos Vingadores não apenas revitalizaram o grupo nos quadrinhos, impulsionando suas vendas ao topo, mas também plantaram as sementes para a popularidade que vemos hoje nas telas de cinema.
O surgimento dos Novos Vingadores nos quadrinhos da Marvel representou um ponto de inflexão crucial para a franquia. Essa nova encarnação da equipe nasceu diretamente das cinzas da saga "Vingadores: A Queda", publicada em 2004 e magistralmente escrita por Brian Michael Bendis. Na trama, a equipe original dos Vingadores sofre uma devastação quase completa. Uma série de eventos catastróficos e fatais, incluindo um ataque do letal robô Ultron, a trágica morte do Homem-Formiga Scott Lang, a destruição simbólica da Mansão dos Vingadores e a chocante revelação de que a Feiticeira Escarlate, em um momento de profundo desequilíbrio mental, orquestrou toda a crise, abalaram profundamente o grupo, culminando em sua dissolução.
Com os Vingadores oficialmente desmantelados, a Marvel iniciou uma nova era. Foi em "Novos Vingadores" número 1, lançado em 2005, também sob a batuta de Bendis e com a arte vibrante de David Finch, que a nova formação surgiu. O ponto de ignição para a formação da equipe foi uma fuga em massa na prisão de segurança máxima para supervilões conhecida como a Balsa. Em meio ao caos e à ameaça iminente, um grupo heterogêneo de heróis se uniu de forma espontânea para conter os fugitivos: o engenhoso Homem de Ferro, o icônico Capitão América, o ágil Homem-Aranha, o resiliente Luke Cage, o poderoso Sentinela e a enigmática Mulher-Aranha, Jessica Drew. Impressionado com a eficácia da improvisada equipe e reconhecendo a urgente necessidade de uma força de ação direta, Steve Rogers tomou a decisão de que os Vingadores deveriam renascer, mas com uma nova identidade.
Assim, nasceram os Novos Vingadores, marcados por uma abordagem mais urbana, visceral e dinâmica. Em sua primeira missão oficial, uma perigosa incursão na selvagem Terra Selvagem, o indomável Wolverine também se juntou à equipe. Essa formação representou mudanças significativas na dinâmica do grupo. Pela primeira vez, personagens como o Homem-Aranha e Wolverine, até então figuras relativamente isoladas no universo Marvel, integravam oficialmente os Vingadores. Essa inclusão estratégica aproximou a equipe de um público mais amplo e diversificado, mesclando diferentes nichos de fãs dentro do vasto universo Marvel. Luke Cage, que vinha passando por uma revitalização como um herói de bairro com forte apelo urbano, ascendeu a uma das figuras centrais da equipe, ao lado de Jessica Drew, cuja complexa ligação com organizações secretas adicionou intrigantes camadas de espionagem e mistério à narrativa.
Os Novos Vingadores se o distinto de suas encarnações anteriores pela ausência de uma base fixa tradicional e de uma estrutura hierárquica rígida. Eles operavam mais como vigilantes e agentes de campo, lidando com ameaças de escala global, mas também mergulhando em questões mais sombrias e intrincadas, envolvendo conspirações e segredos obscuros. Essa nova formação representou a equipe de Vingadores mais urbana e conectada com as ruas que a Marvel já havia apresentado aos seus leitores.
Os Novos Vingadores enfrentaram sua maior crise interna com o deflagrar da Guerra Civil dos Super-Heróis. A detonação em Stamford, causada pelos impulsivos Novos Guerreiros, resultou na trágica morte de centenas de civis e catalisou a criação da controversa Lei de Registro de Super-Humanos. Essa legislação exigia que todos os heróis revelassem suas identidades secretas ao governo e passassem a operar como agentes registrados, uma medida que dividiu profundamente a comunidade heroica. Tony Stark, convicto de que o registro era necessário para evitar futuras tragédias, liderou a facção pró-registro. Steve Rogers, por outro lado, tornou-se o símbolo da resistência contra essa imposição, e a equipe dos Novos Vingadores se fragmentou irremediavelmente. O Homem-Aranha, por exemplo, inicialmente alinhou-se com Stark, embora mais tarde tenha reconsiderado sua posição e voltado a atuar ao lado dos Novos Vingadores na clandestinidade.
Essa nova configuração do grupo clandestino incluía Luke Cage, que se recusou a abandonar seu bairro e resistiu publicamente à lei, Wolverine, Clint Barton sob a identidade de Ronin, a poderosa Eco e o místico Doutor Estranho, que ofereceu o Sanctum Sanctorum como base secreta para suas operações. Durante esse período turbulento, os Novos Vingadores realizaram missões perigosas, protegendo civis e combatendo o avanço do autoritarismo sob o constante risco de prisão. A Guerra Civil chegou ao fim com a rendição de Steve Rogers, mas o custo para os heróis, especialmente aqueles que operavam como foras da lei, foi considerável. Apesar disso, os Novos Vingadores mantiveram-se unidos, mesmo em um mundo que agora os via como criminosos.
Após os eventos da Invasão Secreta, quando a infiltração em larga escala dos Skrulls é revelada ao mundo e a ameaça alienígena é finalmente debelada, a opinião pública sofre um colapso. A SHIELD perde toda a sua credibilidade e é dissolvida. Nesse vácuo de poder, quem assume o controle da segurança global é ninguém menos que Norman Osborn, o outrora insano Duende Verde que havia se redimido publicamente ao assassinar a Rainha Skrull em rede nacional. Essa ascensão meteórica marca o início da sombria saga conhecida como Reinado Sombrio, um dos momentos mais tensos e politicamente carregados do universo Marvel. Com Osborn no comando, nasce a HAMMER, a controversa substituta da SHIELD, e ele reorganiza os Vingadores sob sua própria liderança, transformando-os na prática em uma equipe de vilões e anti-heróis disfarçados. Wolverine é substituído por seu instável filho Daken, o Homem-Aranha pelo psicótico Mac Gargan (o Venom original) e o habilidoso Gavião Arqueiro pelo mortal mercenário Mercenário. O próprio Norman se posiciona como o Patriota de Ferro, uma sinistra fusão visual entre o Homem de Ferro e o Capitão América. Esse grupo opera com total respaldo do governo, enquanto os Novos Vingadores, agora completamente clandestinos, continuam sua luta nas sombras contra o sistema corrupto.
Durante essa fase sombria, os Novos Vingadores se tornam essencialmente uma resistência underground. Luke Cage continua liderando a equipe, com o apoio de personagens como Clint Barton (novamente como Gavião Arqueiro), a poderosa Miss Marvel (Carol Danvers), o Homem-Aranha, Wolverine, a veloz Harpia, a investigadora particular Jessica Jones e o renascido Bucky Barnes, agora atuando como o novo Capitão América após a trágica morte de Steve Rogers. A base de operações da equipe passa a ser o modesto apartamento de Luke Cage, e o grupo precisa lidar com implacáveis caçadas federais, a constante ameaça de espiões infiltrados e a crescente e brutal influência de Norman Osborn. Mesmo sob risco constante, eles perseveram, salvando vidas e se opondo ao regime opressor, mantendo vivo o ideal original dos Vingadores.
O fim do Reinado Sombrio chega com o épico Cerco de 2010, quando Norman Osborn comete seu erro fatal. Ele lidera um ataque insano contra a mística cidade de Asgard, que naquele momento flutuava sobre os céus de Oklahoma. Esse ato de agressão força heróis de todas as vertentes do universo Marvel a se unirem para derrubar o regime de Osborn. Os Novos Vingadores participam ativamente do confronto decisivo, e após a queda de Osborn e o colapso da HAMMER, a Lei de Registro de Super-Humanos, que havia dividido o universo Marvel desde a Guerra Civil, é finalmente revogada.
Surge então a iniciativa conhecida como Era Heroica, uma tentativa ambiciosa de restaurar a fé do público nos super-heróis e reconstruir as instituições de defesa. Steve Rogers, que havia retornado à vida, mas agora sem o icônico escudo de Capitão América, assume o posto de Comandante Nacional de Segurança e promove uma reestruturação abrangente das equipes de Vingadores. Em vez de reunir todos os heróis em um único grupo, ele forma três equipes principais: os Vingadores tradicionais, liderados por Maria Hill e Tony Stark, os Vingadores Secretos, comandados pelo próprio Rogers em missões de espionagem e operações encobertas, e uma nova encarnação dos Novos Vingadores, novamente sob a liderança do comprovadamente capaz Luke Cage.
Essa nova formação dos Novos Vingadores se distancia do clima sombrio e clandestino das versões anteriores, adotando um tom mais leve e focado nas dinâmicas interpessoais. A equipe inclui Jessica Jones, o místico Punho de Ferro, a inspiradora Miss Marvel, o implacável Wolverine, o espirituoso Homem-Aranha, o rochoso Coisa, a veloz Harpia e até mesmo o sábio Doutor Estranho. Eles operam com o aval do governo, mas ainda mantêm autonomia em missões de alto risco e na proteção do cenário urbano. Um diferencial notável dessa fase é a exploração aprofundada das relações pessoais dentro da equipe, especialmente o casamento e a paternidade de Luke Cage e Jessica Jones, trazendo um lado mais humano e cotidiano à dinâmica dos heróis, enriquecendo a narrativa e solidificando o legado dos Novos Vingadores como uma das mais importantes e influentes equipes da história da Marvel Comics.