O Japão, um país conhecido por sua rica cultura, paisagens deslumbrantes e tecnologia de ponta, está enfrentando um desafio inesperado: um declínio no turismo impulsionado pelo medo. A fonte desse temor? Um mangá.
Intitulada "Watashi ga mita mirai" (O futuro que eu vi), a obra de Ryo Tatsuki, lançada originalmente em 1999, ganhou nova notoriedade após uma reedição em 2021. O motivo é perturbador: o mangá prevê um grande desastre atingindo o Japão em julho de 2025.
A razão para tamanha repercussão não reside apenas na natureza apocalíptica da previsão. Ryo Tatsuki já havia chamado a atenção anteriormente por prever o desastre de março de 2011, o terremoto e tsunami que devastaram o norte japonês. Essa coincidência impressionante impulsionou as vendas do mangá, tornando-o popular em países como China, Hong Kong e Tailândia.
Com a proximidade da data fatídica de 2025, o receio se instalou, especialmente entre viajantes do Sudeste Asiático e Hong Kong. Agências de turismo relatam um declínio acentuado nas reservas, enquanto companhias aéreas, incluindo a Greater Bay Airlines, já reduziram a frequência de voos para destinos japoneses.
Nas redes sociais, o pânico é palpável. Turistas declaram estar cancelando ou adiando suas viagens como medida de precaução, mesmo diante da ausência de evidências científicas que corroborem a previsão da autora. Apesar de Ryo Tatsuki ter expressamente orientado seus leitores a confiarem em especialistas e dados científicos, o medo persiste.
O cenário se agrava com a participação de outros atores. Médiuns locais, mestres de feng shui e até mesmo figuras de autoridade têm alertado sobre a possibilidade de terremotos na Fossa de Nankai, uma região conhecida por sua intensa atividade sísmica. Essa combinação de fatores amplifica a ansiedade e alimenta a desinformação.
O medo chega em um momento crítico para o turismo japonês. No início de 2025, o país bateu recordes, atraindo mais de 10,5 milhões de turistas apenas no primeiro trimestre. A expectativa era ultrapassar a marca de 40 milhões de visitantes até o final do ano. No entanto, a propagação de informações infundadas e superstições, impulsionadas pelas redes sociais, ameaça reverter esse cenário positivo.
A importância do setor turístico para a economia japonesa é inegável. O influxo de turistas impulsiona o comércio local, gera empregos e contribui significativamente para o Produto Interno Bruto (PIB) do país. A queda no turismo, portanto, representa um golpe duro para a economia japonesa.
Especialistas, como geólogos e sismólogos, ressaltam que terremotos são eventos naturais imprevisíveis. Embora o Japão esteja situado em uma região geologicamente instável, a tecnologia atual não permite prever um terremoto com precisão, muito menos com uma data específica.
Ainda assim, este episódio demonstra o poder da cultura pop e da memória coletiva de tragédias passadas em influenciar decisões em larga escala. A combinação de uma previsão em um mangá popular com a lembrança do devastador terremoto e tsunami de 2011 criou um clima de medo e incerteza que está afetando o turismo japonês.
O desafio agora é combater a desinformação, promover o pensamento crítico e restaurar a confiança dos turistas no Japão como um destino seguro e acolhedor. A colaboração entre o governo, a indústria do turismo e a comunidade científica é fundamental para superar este obstáculo e garantir a sustentabilidade do setor turístico japonês.