Entre os lançamentos mais impactantes do ano, Lazarus surge como uma das produções mais promissoras da temporada — e talvez de 2025 inteiro. Esta é uma obra original criada por Shinichirō Watanabe, o lendário diretor responsável por Cowboy Bebop, e que agora retorna com uma narrativa madura, tensa e tecnicamente impressionante, trazendo novamente uma abordagem sci-fi com profundidade psicológica e social.
Tive acesso antecipado aos cinco primeiros episódios da série, disponibilizados pela Max, que está exibindo o anime no bloco Adult Swim. Ainda que o lançamento oficial no streaming da Max esteja atrasado no momento em que escrevo, vale a pena já ficar de olho — pois quando estiver no ar, será uma das estreias que você vai querer acompanhar desde o início.
A história de Lazarus se passa em um futuro não tão distante do nosso, mas com avanços tecnológicos significativos. Três anos antes dos eventos principais do anime, um cientista chamado Dr. Skinner revelou ao mundo a criação de um medicamento revolucionário: RAPID, um analgésico capaz de curar todas as dores — físicas e emocionais.
A promessa de uma substância sem efeitos colaterais levou a sociedade a uma adesão em massa. RAPID foi usada por praticamente toda a população: desde quem sofria com doenças reais até pessoas em busca de alívio para dores emocionais, solidão ou até mesmo por efeitos recreativos.
Porém, tudo muda quando o próprio Dr. Skinner ressurge com uma mensagem aterradora: em 30 dias, todas as pessoas que usaram RAPID morrerão. Ele revela que o remédio, na verdade, contém um efeito letal retardado. O motivo? Segundo ele, a sociedade se tornou corrupta, egoísta, doente — e a extinção seria, aparentemente, um tipo de justiça ou purificação. Apesar disso, o cientista afirma que existe uma cura, mas para encontrá-la, será preciso achá-lo primeiro.
É nesse cenário caótico que conhecemos Axel Gilberto, ou simplesmente Gilberto — um prisioneiro condenado a mais de 800 anos, mas que está constantemente tentando escapar. Ainda que não saibamos exatamente o que ele fez, ele é convocado, contra a própria vontade, para integrar uma força-tarefa especial: o grupo Lazarus.
O time é formado por indivíduos misteriosos, com passados obscuros, mas habilidades distintas: infiltração, combate, tecnologia, entre outros. A vibe lembra bastante Esquadrão Suicida, não por superpoderes, mas por reunir figuras à margem da sociedade em uma missão crítica.
A missão é clara: encontrar Dr. Skinner e impedir a catástrofe iminente.
Nos cinco episódios que assisti, acompanhamos a jornada do grupo Lazarus em busca de pistas sobre o paradeiro de Skinner. Embora a narrativa avance lentamente — afinal, o cientista não seria localizado tão facilmente —, a execução é envolvente. A cada episódio, novas pistas e personagens surgem, aprofundando a complexidade da trama.
Um dos pontos altos de Lazarus é a animação. Produzida pelo estúdio SOLA Entertainment, as cenas de ação são fluídas, cheias de dinamismo, e abusam de técnicas cinematográficas como mudanças de ângulo, cortes ágeis e jogos de câmera. As coreografias de luta são detalhadas e realistas, mantendo o espectador imerso.
A trilha sonora, marcada por batidas eletrônicas, acompanha o ritmo das cenas e contribui para criar uma atmosfera moderna e tensa — uma identidade musical que remete, de certa forma, à sensibilidade sonora de Cowboy Bebop, embora com uma roupagem atualizada.
Visualmente, Lazarus opta por um estilo mais sóbrio. Os traços dos personagens são realistas, evitando os exageros comuns em muitos animes contemporâneos. As paisagens urbanas são ricas em detalhes, com cidades como Babylon City e Istambul apresentadas de forma imersiva, cada uma com sua própria identidade visual e arquitetônica. O contraste entre o high-tech de Babylon e a ambientação mais tradicional de Istambul mostra o cuidado da produção com o worldbuilding.
Um dos grandes méritos da série até agora é seu senso de mistério e construção de suspense. O espectador quer entender o que levou Skinner a essa decisão extrema, quem são os membros do grupo Lazarus e o que cada um esconde.
A série caminha com uma narrativa gradual, mas densa. Ela não entrega tudo de uma vez — em vez disso, convida o público a se aprofundar, episódio após episódio, nos personagens e em suas motivações. É o tipo de narrativa que recompensa a paciência e a atenção aos detalhes.
Assim como em Cowboy Bebop, temos aqui um grupo formado por figuras quebradas, unidas não por altruísmo, mas por necessidade. Os vínculos se formam com o tempo, e os conflitos internos certamente serão peça-chave da trama conforme a história se desenvolve.
Com base nos cinco episódios já exibidos para a imprensa, Lazarus tem todos os elementos para ser um dos melhores animes do ano. Não apenas pelo pedigree de seu criador, mas pela execução cuidadosa, a narrativa densa, a estética sofisticada e a reflexão que propõe sobre dor, sociedade e redenção.
Ainda há muito por vir, e não sabemos se a obra manterá esse ritmo até o fim. Mas o início é promissor — e já coloca Lazarus em destaque entre os lançamentos mais relevantes do ano.
Se você é fã de Cowboy Bebop, de ficções científicas maduras ou de boas histórias de ação e investigação, Lazarus é uma série que merece sua atenção. Assim que estiver disponível oficialmente na Max, não perca a chance de conferir.