O mercado de criptomoedas no Brasil está em ebulição, com um aumento significativo no volume de transações envolvendo stablecoins como o USDT (Tether). Durante o Chainalysis Nodes Brasil, Rocelo Lopes, CEO da SmartPay, revelou um marco impressionante: mais de 666 mil transações de USDT para PIX foram processadas pela plataforma em apenas 24 horas.
Este volume recorde levanta questões sobre os fatores que impulsionam essa crescente adoção. Uma das hipóteses é o recente aumento no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) imposto pelo governo, que pode estar incentivando o uso de alternativas como as stablecoins para transações internacionais.
Dados do Banco Central já indicavam uma tendência de aumento no uso de stablecoins no país. Segundo a instituição, mais de 90% do volume de negociações e movimentações de criptomoedas no Brasil são realizadas com moedas estáveis como USDT e USDC. Um relatório do Bitybank reforça essa constatação, mostrando um crescimento de mais de 160% no volume de negociações desses ativos no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024.
Para Ney Pimenta, CEO do Bitybank, o aumento do IOF impacta diretamente pequenos e médios empreendedores, freelancers, turistas e qualquer pessoa que precise realizar transações internacionais. As stablecoins, com sua eficiência e baixo custo, tornam-se uma alternativa cada vez mais atraente.
Diante desse cenário, o Banco Central do Brasil avalia classificar operações com stablecoins dentro do mercado de câmbio, o que resultaria na incidência de IOF por parte da Receita Federal. Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, chegou a sugerir aumentar a tributação sobre remessas de criptomoedas para o exterior, visando criar uma fonte de arrecadação alternativa e, potencialmente, reduzir o IOF em outras operações.
Contudo, essa possível regulamentação e tributação geram preocupação no mercado. Thiago Sarandy, diretor de Assuntos Jurídicos e Regulatórios da Binance para o Brasil e El Salvador, alertou para o risco de que uma simples decisão do Banco Central possa tributar o mercado global de criptomoedas com IOF, seguindo as regras do mercado de câmbio.
O Banco Central, por sua vez, afirma estar avaliando as contribuições para as Consultas Públicas sobre o tema e que pode rever alguns pontos polêmicos, como as regras para transferência de carteiras de autocustódia e a classificação de todas as operações com USDT como operações de câmbio.
Enquanto a regulamentação avança, o mercado de criptomoedas continua a crescer em ritmo acelerado. Courtnay Guimarães, Head de Digital Assets do Bradesco, projeta que o mercado cripto movimentará mais de US$ 30 trilhões globalmente, desafiando o sistema financeiro tradicional e criando uma nova ordem monetária.
Segundo Guimarães, o sistema financeiro atual passa por uma transformação sem precedentes, com liquidação instantânea e global, algo inexistente no sistema tradicional. Ele compara o impacto do mercado cripto a um "tsunami de US$ 4,84 trilhões" que se manifestará em produtos financeiros como opções, derivativos e ETFs.
Um dos aspectos mais notáveis dessa transformação é a capacidade de realizar pagamentos internacionais sem a intermediação dos bancos tradicionais. Com uma conta cripto e o PIX, qualquer pessoa pode converter valores em tempo real, acessando uma vasta gama de ativos globalmente. Esse processo elimina intermediários, acelera o fluxo financeiro e coloca o controle nas mãos dos usuários.
O mercado tradicional, segundo Guimarães, ainda não compreende a magnitude dessa transformação, que tem surpreendido a todos e desafiado as previsões mais otimistas. O futuro das finanças, ao que tudo indica, está cada vez mais ligado ao universo das criptomoedas.