Você já se pegou vendo barras de vida sobre a cabeça das pessoas? Calma, você não está alucinando. Esse fenômeno, embora possa parecer estranho, é mais comum do que se imagina e tem um nome: Fenômeno de Transferência de Jogos, ou GTP (Game Transfer Phenomena).

O GTP é uma consequência da crescente imersão proporcionada pelos videogames modernos. Lembra das histórias sobre pessoas sonhando com Tetris e vendo blocos caindo em todos os lugares, o famoso "Efeito Tetris"? O GTP é uma evolução desse conceito, levando a interação entre o mundo virtual e real a um novo patamar.

O que é exatamente o GTP?

Basicamente, o GTP se manifesta como uma série de experiências involuntárias que ocorrem após longas e intensas sessões de jogos. Elementos do universo virtual, como sons, imagens, mecânicas e até mesmo a interface do jogo, começam a se infiltrar na percepção da realidade.

Angelica Ortiz de Gortari, pesquisadora que cunhou o termo, descreveu o fenômeno há cerca de uma década em sua tese de doutorado, inspirada por sua própria experiência de ver produtos em um supermercado como se estivesse usando uma luneta de videogame.

Quais são os sintomas do GTP?

Os sintomas do GTP podem variar, mas alguns dos mais comuns incluem:

• Percepções Visuais: Ver elementos da interface do jogo, como barras de vida, indicadores de munição, mapas ou outros elementos gráficos sobrepostos à realidade.
• Percepções Auditivas: Ouvir sons e músicas do jogo em momentos aleatórios, mesmo quando não está jogando.
• Impulsos Automáticos: Sentir a necessidade de realizar ações específicas do jogo, como pressionar botões ou realizar movimentos para obter vantagens ou coletar itens.
• Pensamentos e Comportamentos Recorrentes: Usar jargões e expressões típicas dos jogos em conversas cotidianas, ou pensar em estratégias e táticas de jogo em situações da vida real.
• Sensações Táteis ou Cinestésicas: Sentir o controle do videogame nas mãos, mesmo quando não está segurando nenhum.

Imagine, por exemplo, sentir a necessidade de agarrar um objeto comum como se fosse um power-up essencial para sua sobrevivência, ou ver barras de saúde sobre a cabeça das pessoas na rua.

É algo incomum?

Surpreendentemente, não. Estudos com milhares de jogadores revelam que a maioria já experimentou o GTP pelo menos uma vez. Pesquisas realizadas na China indicam que entre 82% e 96% dos participantes relataram ter vivenciado alguma forma de GTP.

Apesar de parecer estranho, o GTP geralmente não é perigoso ou preocupante. É um fenômeno temporário e facilmente explicável, que tende a desaparecer com o tempo. No entanto, em alguns casos, pode ser desconcertante e até mesmo causar certo nível de ansiedade.

Por que o GTP acontece?

A explicação para o GTP reside na forma como os videogames moldam nossos padrões de pensamento e comportamento. Os jogos exigem respostas rápidas e condicionadas, que são repetidas inúmeras vezes durante as sessões de jogo. Essa repetição constante pode levar à automatização dessas respostas, que acabam se manifestando na vida real.

Além disso, a crescente imersão proporcionada pelos jogos modernos intensifica ainda mais essa transferência. Assim como uma música grudenta que fica repetindo em nossa mente, os elementos dos jogos se fixam em nossa memória e se manifestam de forma involuntária.

No entanto, o GTP é diferente de uma simples música grudenta. Ele envolve áreas do cérebro relacionadas à ação e aos impulsos, tornando a experiência mais intensa e vívida.

O futuro do GTP

Especialistas alertam que o avanço da tecnologia, especialmente com o advento da realidade virtual, pode intensificar o GTP no futuro. A imersão ainda maior proporcionada por esses dispositivos pode levar a experiências ainda mais vívidas e persistentes.

Portanto, o GTP é um fenômeno que merece atenção da ciência. Ele não apenas reflete o impacto dos videogames em nossas vidas, mas também revela a vulnerabilidade de nossas mentes aos avanços tecnológicos cada vez mais imersivos e persuasivos. Entender o GTP é crucial para compreendermos como os videogames moldam nossa percepção da realidade e como podemos mitigar seus potenciais efeitos negativos.