Diablo, a franquia que definiu o gênero de RPG de ação, quase seguiu um caminho drasticamente diferente. A história por trás da sua transformação revela um conto de resistência, votações decisivas e um momento de epifania que mudaria a história dos jogos para sempre.
Originalmente concebido como um roguelike baseado em turnos, Diablo carregava as influências de clássicos como Rogue, Moria e Angband. O próprio nome, inspirado no Monte Diablo na Califórnia, indicava as raízes do projeto. A visão inicial era focada em exploração de masmorras sombrias, saque constante e uma experiência imersiva, mas com uma mecânica de combate calculada e estratégica, baseada em turnos.
As editoras, na época, não demonstravam muito interesse em RPGs. O criador de Diablo, David Brevik, enfrentou mais de 20 rejeições antes que a Blizzard (então conhecida como Silicon & Synapse) vislumbrasse o potencial da sua criação. No entanto, essa aprovação veio com uma condição crucial: a jogabilidade deveria ser em tempo real, em vez de baseada em turnos.
Brevik resistiu. Para ele, a essência da diversão residia nas decisões táticas e no planejamento cuidadoso, não em cliques frenéticos. Mas a equipe da Blizzard North tinha uma visão diferente. Acreditavam que a ação em tempo real traria uma dinâmica mais emocionante e envolvente ao jogo.
A discordância levou a uma votação interna. A pequena equipe da Blizzard North votou esmagadoramente a favor da ação em tempo real, forçando Brevik a reconsiderar sua posição. Apesar do ceticismo inicial, ele concordou em experimentar.
E foi durante essa experimentação que a magia aconteceu. Brevik, trabalhando sozinho em seu escritório em uma sexta-feira à noite, testava uma linha de código quando se deparou com um esqueleto no jogo. Ele clicou no inimigo e, para sua surpresa, seu personagem correu, atacou e destruiu a criatura óssea em tempo real.
"Meu Deus, que sensação incrível!", Brevik relembrou o momento, descrevendo a sensação visceral e imediata da ação. Aquele clique, aquele instante, foi o catalisador que transformou Diablo no jogo que conhecemos e amamos.
A mudança para o tempo real não apenas revolucionou o sistema de combate, mas também permeou toda a atmosfera do jogo. Diablo se tornou um pioneiro, o primeiro RPG de ação de verdade do gênero. O sistema de saques gerados aleatoriamente, a busca incessante por itens poderosos e a jogabilidade direta, sem a necessidade de longas conversas ou histórias complexas, foram elementos que definiram a fórmula de sucesso.
A filosofia era simples: o tempo entre o início do jogo e a morte do primeiro inimigo deveria ser menor que um minuto. Essa abordagem imediata e gratificante capturou a atenção dos jogadores, criando um ciclo viciante de exploração, combate e recompensa.
Brevik percebeu que havia criado algo especial quando os desenvolvedores da Blizzard começaram a ficar até mais tarde no trabalho, simplesmente para continuar jogando Diablo. O jogo se tornou um sucesso surpreendente, Diablo 2 se consagrou como um marco, e os fãs continuam a jogar ambos os títulos com paixão até hoje.
Embora Brevik tenha deixado a Blizzard posteriormente e trabalhado em outros projetos, como Hellgate: London e seu estúdio Graybeard Games, a franquia Diablo permanece como seu maior legado. A história de como um único clique transformou um jogo de turnos em um RPG de ação icônico é uma prova do poder da experimentação e da importância de estar aberto a novas ideias, mesmo quando elas desafiam nossas convicções iniciais. A história de Diablo é uma celebração da criatividade e da evolução no mundo dos jogos.