No mosaico sombrio e multifacetado de Watchmen, o Coruja se destaca como um farol de humanidade em meio a vigilantes atormentados. Daniel Dreiberg, o homem por trás da máscara, não é impulsionado por vingança ou assombrado por traumas profundos. Ele veste o uniforme por admiração, movido pela crença, talvez ingênua, de que ainda é possível fazer o que é certo. Com sua icônica nave e um idealismo persistente, o Coruja personifica tanto a nostalgia da era heroica quanto a fragilidade inerente àqueles que se colocam entre a ordem e o caos.
1. Inspirado no Besouro Azul e no Batman: Alan Moore e Dave Gibbons, os criadores de Watchmen, conceberam seus personagens como versões alternativas dos heróis da Charlton Comics, editora que a DC havia adquirido. Originalmente, a ideia era utilizá-los diretamente, mas a abordagem sombria e conclusiva de Moore motivou a DC a preservar seus ícones, solicitando a criação de análogos. O Coruja encontrou sua principal inspiração em Ted Kord, o Besouro Azul, compartilhando com ele a paixão por tecnologia, engenhocas e um veículo aéreo similar. Além disso, o traje do Coruja evoca o Batman, com sua capa, máscara, aura noturna e metodologia. Contudo, enquanto o Cavaleiro das Trevas é moldado por um trauma infantil, Daniel Dreiberg é guiado pela admiração e um senso de dever.
2. Dois Corujas na História: O manto de Coruja foi carregado por dois indivíduos distintos em Watchmen. O primeiro foi Hollis Mason, um ex-policial inspirado nos heróis das revistas pulp a se tornar um vigilante. Ele integrou o grupo original dos Minutemen e, posteriormente, aposentou-se, dedicando-se a escrever suas memórias no livro "Sob a Máscara". Daniel Dreiberg é o segundo Coruja e o mais presente na narrativa principal. Admirador de Mason e fascinado por tecnologia, Dreiberg pediu permissão para assumir seu lugar. Com equipamentos avançados e um forte senso de justiça, ele se destaca como um herói mais cerebral e introspectivo, com intenções genuinamente altruístas.
3. Treinamento com o Coruja Original: Antes de se tornar o Coruja, Daniel Dreiberg era um jovem obcecado pela era de ouro dos vigilantes mascarados. Sua admiração por Hollis Mason era tanta que ele investigou seu passado, descobrindo seu esconderijo secreto. Impressionado com o entusiasmo e respeito de Dan, Hollis viu nele um sucessor legítimo. Reconhecendo que Dan buscava justiça e conhecimento, não fama, Hollis concordou em treiná-lo. Ele compartilhou histórias dos Minutemen, táticas de combate, estratégias de vigilância e até dicas sobre como manter sua identidade secreta. Essa relação evoluiu para algo próximo a um laço paterno, tornando Hollis uma das maiores influências na formação de Dan como herói.
4. Parceria Marcante com Rorschach: Durante o período em que os vigilantes eram tolerados, o Coruja frequentemente patrulhava as ruas com Rorschach. A dupla formava uma aliança improvável: Dan era racional, empático e cauteloso, enquanto Rorschach agia com brutalidade e uma visão extremista do mundo. No entanto, existia uma confiança mútua, forjada nas ruas, que tornou essa parceria icônica. Mesmo após a Lei Keene proibir as atividades mascaradas, Rorschach continuou atuando sozinho — e foi seu retorno que arrastou o Coruja de volta à ação. Juntos, investigaram o assassinato do Comediante, enfrentaram policiais, resgataram pessoas de um incêndio e invadiram a base de Ozymandias. Apesar das diferenças ideológicas, Dan e Rorschach se complementavam em combate e estratégia, com Dan tentando ser a voz da razão.
5. Nave Inspirada em Merlim: Uma das criações mais icônicas do Coruja é sua nave em forma de coruja, equipada com sistemas de voo vertical, lança-chamas e tecnologia subaquática. Ele a batizou de Archie, em referência a Arquimedes, a coruja mágica do mago Merlin. O visual da nave se tornou uma das imagens mais marcantes, sendo usada em diversas missões com Rorschach e Espectral. O design remete a veículos clássicos dos heróis pulp e reforça a paixão de Dreiberg por tecnologia.
6. O Coração de Watchmen: Diferente de personagens mais extremos, o Coruja é o ponto de equilíbrio emocional da equipe. Daniel Dreiberg demonstra compaixão pelas vítimas e preocupação com a violência. Essa sensibilidade o torna um elo importante com o leitor. Em meio a figuras moralmente ambíguas, ele tenta sinceramente fazer o bem. Seu papel humaniza a narrativa e traz contraste à frieza de Ozymandias e Dr. Manhattan.
7. Crítica ao Escapismo e Sexualidade Reprimida: Alan Moore concebeu o Coruja como uma sátira do leitor médio de quadrinhos. Daniel Dreiberg é um homem comum, frustrado, cuja vida só ganha sentido quando ele se torna o Coruja. Sua dependência emocional da persona mascarada reflete o escapismo. Na cena em que Dan tenta fazer sexo com Laurie, Moore questiona a ligação da identidade heroica com desejos reprimidos.
8. Retorno em Doomsday Clock: O Coruja reaparece no final de Doomsday Clock, com Laurie Juspeczyk. Eles assumem novas identidades, vivem uma vida pacífica e criam sua filha Sally. O sobrenome é uma homenagem ao primeiro Coruja. A cena mostra a chegada de Clark, filho de Marionette e Mime.
9. Prisão por Vigilantismo: A série de Watchmen da HBO revela que o Coruja foi preso por continuar atuando como vigilante. Ao contrário de Laurie, que aceitou um acordo, Dan permaneceu fiel a seus princípios.
10. Versão Controvertida de Zack Snyder: Na adaptação cinematográfica de Watchmen (2009), o Coruja foi retratado com uma abordagem visual mais agressiva. Suas cenas de luta foram intensificadas e o traje ganhou um redesign moderno. Essa versão dividiu opiniões entre os fãs, alguns achando que o Coruja se tornou mais interessante visualmente, outros que essa mudança desvirtuou a essência do personagem.