Quem nunca se deparou com aquela fita de Mega Drive sem rótulo, talvez com um nome rabiscado à mão em um pedaço de durex? Essa era uma cena comum na era dos 16 bits, e muitas vezes esses cartuchos abrigavam verdadeiras pérolas que acabavam se perdendo na memória com o tempo. Para os nostálgicos e curiosos, o prazer de redescobrir esses jogos esquecidos é imenso. Pensando nisso, apresentamos alguns títulos obscuros do Mega Drive que podem reacender memórias ou apresentar novas aventuras para os entusiastas da geração 16 bits.
Maou Rishi: Mergulhe na pele de um artista Kabuki que se transforma em uma roda de destruição. Este jogo de ação lateral não perde tempo em apresentar sua premissa peculiar. Logo na primeira fase, prepare-se para enfrentar uma horda de inimigos com paletas de cores recicladas de forma descarada – lutadores de sumô roxos e criaturas bizarras em tons variados são apenas o começo. O protagonista Kabuki possui um estilo de luta único, e o jogo reserva surpresas como um chefe inicial que se desfaz como papel de presente sob seus golpes. A dificuldade é irregular, com chefes fáceis e outros desafiadores. Um dos itens mais interessantes é um leque que funciona como um bumerangue, exigindo precisão para ser pego de volta. A atmosfera geral remete a "Golden Axe", inclusive no sistema de especiais baseados em pergaminhos. No entanto, o verdadeiro final só é acessível na dificuldade Hard, um desafio extra para os completistas.
Power Drive: Este título de corrida com visão de cima pode ser menos conhecido no Brasil, possivelmente com uma maior distribuição na Europa. "Power Drive" é um jogo extenso que acompanha senhas igualmente longas, exigindo paciência para anotar cada combinação. Com carros reais disponíveis para escolha, incluindo o icônico 5800, o gerenciamento de finanças se torna crucial, com a necessidade de equilibrar consertos e a compra de novas peças. A progressão do jogo leva o jogador por diferentes países, como a Suécia, onde a compra de carros específicos se torna necessária. As modalidades de corrida variam, incluindo corridas tradicionais e contra o tempo. No entanto, é preciso ter cautela com os cantos da pista, que podem prender o carro. A dificuldade aumenta exponencialmente nas pistas de gelo da Suécia, testando as habilidades do jogador.
Championship Pro-Am: Para os fãs de jogos com visão isométrica no estilo de "Rock n' Roll Racing", "Championship Pro-Am" é uma recomendação. Controlando carros em pistas desafiadoras, o objetivo é correr e usar power-ups para superar os adversários. A dinâmica de corrida e a possibilidade de usar itens estratégicos tornam cada prova emocionante. É um título que captura a essência dos jogos de corrida arcade com uma perspectiva estratégica.
Biohazard Battle: Prepare-se para controlar insetos transformados em naves espaciais neste shoot 'em up vertical. Apesar do nome que remete a outra franquia famosa, "Biohazard Battle" oferece uma experiência única e frenética. As armas do jogador podem não ser as mais poderosas inicialmente, mas os chefes compensam com designs memoráveis, como um desabamento na segunda fase e uma sanguessuga gigante na terceira. O clichê da nave-mãe gigante também marca presença. A temática de insetos como inimigos evoca a ideia de robôs orgânicos, uma visão perturbadora de criaturas gigantescas como louva-a-deus mecanizados. As próprias naves controladas pelo jogador parecem formas de vida, retornando a uma nave-mãe para "dormir" ao final do jogo.
Shadow Blasters: Uma grata surpresa para muitos, "Shadow Blasters" apresenta uma tela de seleção de fases com um visual adorável e quase infantil. Os nomes dos ninjas protagonistas na versão ocidental – Horácio e Tiffany – são particularmente memoráveis. A jogabilidade inicial pode parecer um pouco estranha, com ataques incomuns que se tornam mais eficazes ao acumular poder. Cada ninja possui ataques especiais únicos, como o furacão de Tiffany que persegue os inimigos. A grande peculiaridade do jogo reside no sistema de vida: a energia do personagem é permanente e não se recupera ao passar de fase. No entanto, é possível trocar de personagem durante as fases para preservar a vida dos outros. A estratégia envolve alternar entre os ninjas, tentando manter a saúde de todos para o confronto final. Após vencer as fases iniciais, duas fases adicionais são desbloqueadas, culminando em uma luta final frustrante, onde o jogador se transforma em uma criatura gigante e difícil de controlar, tornando o confronto excessivamente punitivo.
Crossfire: Para os amantes de shoot 'em ups, "Crossfire" oferece uma experiência híbrida interessante. Controlando um helicóptero, o jogador recebe missões diretamente de um personagem que lembra um membro da Família Addams. A escolha de países como a "Guatemara" (com uma pronúncia peculiar) adiciona um toque de humor. É possível comprar armas especiais além do tiro padrão. Uma característica incomum é a tela de rolagem ampla, que não exibe todo o cenário de uma vez, exigindo exploração. A grande surpresa é a transição das fases de nave para seções a pé como um soldado, transformando o jogo em um shooter no estilo de "Mercs". Essa alternância entre voo e combate terrestre, embora nem sempre coesa, oferece variedade. Os chefes do jogo são notórios por, em muitos casos, não darem feedback visual de dano, tornando os confrontos confusos. Além disso, nas seções a pé, não é possível retroceder, o que pode levar à perda de reféns a serem salvos. A loja do jogo é cara no início, mas abundante em recursos no final, sem muito para comprar. A possibilidade de escolher a arma para cada missão adiciona um elemento estratégico. Destaque para a "tecnologia cubana" que transforma as asas do avião em bumerangues.
Ghostbusters: Apesar da existência de versões menosprezadas para NES e Master System, o Mega Drive possui um dos melhores jogos de "Ghostbusters" da era 16 bits. Este plataforma expande o universo do filme, incorporando elementos de loja e oferecendo uma curva de aprendizado que permite ao jogador memorizar a melhor forma de superar cada fase. O jogo não tenta ser uma adaptação direta do filme, mas utiliza seus elementos para criar uma experiência divertida e envolvente, mostrando o potencial inexplorado de muitas adaptações cinematográficas para os videogames.
Galahad: Este título com uma estética que lembra jogos de Amiga destoa um pouco do catálogo típico do Mega Drive ocidental, embora também carregue traços característicos da plataforma. Visualmente agradável, "Galahad" recebe o jogador com uma dificuldade implacável. Explorar cavernas e desviar de pedras se torna uma constante. O protagonista possui um bom alcance de ataque e um movimento que lembra "Strider". A trilha sonora evoca "Kid Chameleon", e os gráficos, embora com uma escala maior, também remetem ao mesmo título. Apesar da dificuldade, a curiosidade de avançar é recompensada por elementos visuais interessantes, como uma carrocinha charmosa que o jogador pode usar. É um exemplo raro de um jogo ocidental bem feito para os consoles 8/16 bits.
Klash (Kadash): Um jogo de plataforma com elementos de RPG desenvolvido pela Taito. Embora a melhor versão seja considerada a do PC Engine, a versão do Mega Drive possui suas peculiaridades. É surpreendente como este título permanece desconhecido para muitos, e ainda mais intrigante a escolha de jogadores por outros personagens que não o clérigo (que, curiosamente, não está presente na versão do Mega Drive). Na ausência do clérigo, o jogador controla o guerreiro ou o mago, tornando a experiência mais desafiadora, mas igualmente divertida. Uma reviravolta no final compensa a dificuldade, tornando "Klash" um título que merece ser redescoberto.
The Flintstones: O jogo que inspirou este vídeo. Desenvolvido com a participação da Sunsoft (uma empresa amada pelos fãs da Sega, muitas vezes sem o devido reconhecimento), "The Flintstones" para Mega Drive apresenta sprites grandes e animações fluidas. A mecânica cartunesca, como o personagem "sapateando" no ar ao quase cair de um penhasco, é implementada de forma a não prejudicar a jogabilidade. Os chefes são criativos e as fases variadas. Um ponto positivo é a possibilidade de continuar de onde se parou ao perder uma vida, algo incomum em jogos de plataforma da época. O jogo também oferece muitas vidas extras, incentivando a exploração e a ação. As referências ao universo dos Flintstones, como a icônica Bedrock (sempre acompanhada de um "TM" de trademark nos diálogos), adicionam um charme especial.
Elemental Master (Science Sword): Este título japonês da Tecno Soft personifica a essência do Mega Drive japonês. Enquanto "Galahad" pode enganar com sua estética, "Elemental Master" (conhecido como "Science Sword" no Japão) revela sua origem nipônica em sua jogabilidade e design. Controlando um centauro com a capacidade de se transformar, o jogo evoca títulos como "Dana: Mega Drive Special" e "Alisia Dragoon". Com chefes memoráveis e um aroma que lembra "El Viento", "Elemental Master" é um jogo desafiador com fases amplas que podem facilmente desorientar o jogador, mas que recompensa a exploração com uma experiência única e envolvente.
A busca por jogos esquecidos do Mega Drive é uma jornada nostálgica e recompensadora. Se algum desses títulos despertou sua memória ou curiosidade, vale a pena revistá-los. E se aquele jogo obscuro que marcou sua infância não apareceu nesta lista, compartilhe sua lembrança nos comentários – a comunidade e outros entusiastas podem ajudar a desvendá-lo. A magia dos 16 bits continua viva, esperando para ser redescoberta.